Tratamento Ortodôntico em Pacientes com problemas Periodontais
Tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto de inserção reduzido
Neste artigo de 2009, Publicado pela Revista Gaúcha de Odontologia, pelos autores Fernanda Labayle Couhat CARRARO; Cristina JIMENEZ-PELLEGRIN; do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic – Campinas – São Paulo, teve por objetivo realizar uma revisão de literatura sobre o tratamento ortodôntico para pacientes com periodonto de inserção reduzido.
As doenças periodontais estão entre as doenças crônicas mais comuns nos seres humanos, afetando de 5 a 30% da população adulta de 25 a 75 anos de idade, sendo a causa mais frequente de perdas dentárias em adultos. Sabe-se também que na presença da doença periodontal a saúde geral pode ficar comprometida. Existem evidências de que as periodontites aumentam o risco de certas afecções sistêmicas, entre elas, algumas doenças cardíacas, parto prematuro e baixo peso ao nascer. Dessa forma, a prevenção e o tratamento da doença periodontal devem ser necessários e fundamentais não apenas para a manutenção da saúde do periodonto, mas também para evitar problemas de ordem geral.
Os primeiros sinais da doença periodontal se manifestam na forma de uma gengivite, decorrentes do acúmulo de placa bacteriana sobre a superfície dos dentes, levando a uma resposta inflamatória nos tecidos gengivais. A persistência da gengivite fará com que a placa bacteriana subgengival ganhe uma composição mais complexa, com a colonização secundária por bactérias Gram-negativas anaeróbias, o que contribuirá para aumentar sua patogenicidade. Assim, e também conforme as respostas imunológicas do hospedeiro, podem se iniciar as variadas formas de periodontite, como a prevalente periodontite no adulto ou, mais raras, as periodontites de acometimento precoce, como a periodontite pré-puberal, a periodontite juvenil localizada e a periodontite de acometimento precoce generalizada. Todas se caracterizam pela destruição do periodonto de sustentação, ou seja, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar.
A destruição do periodonto de sustentação pela atividade da placa bacteriana gera perda de equilíbrio entre o suporte periodontal disponível e as forças que agem sobre os dentes, resultando em alterações de posição que podem comprometer tanto a oclusão quanto a estética. A busca da normalização, sem a possibilidade de agravar ainda mais o periodonto de sustentação, deve ser, portanto, o objetivo do tratamento ortodôntico para tais pacientes, buscando sempre a obtenção de uma oclusão estável e de uma estética favorável, em condições periodontais saudáveis.
O tratamento ortodôntico é baseado na aplicação de uma força em um dente, que irá produzir o movimento dentário, à medida que ocorre remodelação das estruturas adjacentes. Dessa forma, nota-se que uma estrutura periodontal sadia é extremamente importante para a movimentação dentária, para que se obtenham resultados satisfatórios. Portanto, torna-se importante a integração multidisciplinar entre a ortodontia e a periodontia, com a associação do tratamento ortodôntico e periodontal nos pacientes acometidos pela doença periodontal.
Devem-se estabelecer as metas e os objetivos do tratamento ortodôntico. No tratamento de crianças e adolescentes o objetivo é a finalização, atingindo as seis chaves de oclusão de Andrews, porém, para os pacientes com periodonto reduzido, procura-se levar os dentes para posições isentas de interferências oclusais, possibilitando sua estabilidade e condições periodontais que facilitem a higienização. Os objetivos, assim como as limitações, devem ser explicados ao paciente desde o início do tratamento ortodôntico, pois as expectativas podem superar as possibilidades de resultados.
O tratamento ortodôntico deve ser iniciado na ausência total de inflamação e com um nível adequado de higiene bucal. O cuidado constante durante o tratamento é a base de um resultado favorável, sendo assim, a terapia periodontal deve ser realizada antes da movimentação ortodôntica. Contudo, quando foram comparados os procedimentos periodontais cirúrgicos e conservadores, não foram verificados resultados com diferenças significativas.
Existem controvérsias quanto ao tempo de espera entre o tratamento periodontal e o início da movimentação ortodôntica. Harfin e Zachrisson indicam que se deva aguardar de 2 a 6 meses, avaliando-se a motivação do paciente quanto à higiene bucal e, também, para que ocorra a reparação óssea, contudo, a movimentação ortodôntica deve ser iniciada logo após a realização da terapia periodontal, para que sejam rapidamente estimuladas as células progenitoras do tecido conjuntivo, necessárias para a regeneração tecidual.
Quanto à aparatologia para o tratamento ortodôntico de pacientes com periodonto reduzido, por obter melhor controle do movimento, indica-se o aparelho fixo. Nos molares, é preferível utilizar acessórios colados, no lugar de bandas, pois estas apresentaram maior tendência à retenção de placa bacteriana, provocando reações adversas nos tecidos periodontais. No entanto, essas alterações serão temporárias e reversíveis, desde que sejam respeitados os princípios biológicos durante o movimento ortodôntico. Indica-se, quando possível, o tratamento ortodôntico parcial, restrito à área onde a estética e/ou função necessitam ser melhoradas. Posições mais favoráveis de coroa e raiz são obtidas utilizando o nível ósseo como referência para o posicionamento dos acessórios. O uso de forças leves e mais próximas ao centro de resistência são fatores importantes no controle da movimentação ortodôntica.
Indica-se a realização do tratamento ortodôntico em pacientes com periodonto reduzido, portadores de mal oclusões que agravem a condição periodontal e/ou que sofreram migração dentária patológica. A realização do tratamento está contraindicada na presença da doença periodontal ativa.
Os principais cuidados antes, durante e após o tratamento ortodôntico, em pacientes com periodonto reduzido são: diagnóstico periodontal minucioso; manutenção constante no controle da higiene bucal que deve ser realizada pelo paciente e supervisionada pelo profissional; evitar o posicionamento dos acessórios próximo à margem gengival; uso de forças leves; evitar movimentos extensos, restringindo-se à área onde a estética e/ou função devam ser melhoradas; individualização da contenção.
Fonte: Artigo Revista RGO
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